Andando de ônibus
O gel antiséptico serve para limpar as mãos depois de pegar no dinheiro imundo e todo riscado, rasgado, dobrado que foi entregue ao cobrador. Serve também para deixar a consciência mais tranqüila depois de roer as unhas, pensando que alisou todos os ferros e corrimãos dentro do ônibus. É... Nunca tinha pensado o quanto o gel era importante, fora o muro psicológico que ele cria entre o seu mundo e o mundo de todos aqueles outros que viajam, junto com você, determinado período do dia. É muita sociabilidade demais para pessoas que gostam de um pouco de privacidade. Eugênio gosta de privacidade. Também tem um gel, que carrega na pasta tipo carteiro.
Certas vezes, por ter uma cara benevolente, precisa trocar uma ou outra palavra com o companheiro de cadeira e de trajeto. - Existem preços de passagens diferentes neste ônibus? Perguntou a mulher bigoduda que sentou ao lado dele. - Neste ônibus, não. Disse. - Mas ali o cartaz mostra vários preços, porque existem várias linhas de ônibus. Dependendo do percurso, ou se têm integração com o metrô, eles têm preços diferentes, explicou.
A mulher bigoduda estava prestando atenção, como se não fosse dali. De fato, fazia muito tempo que ela não andava num ônibus no Recife. Segundo ela, vinte anos, vividos entre a Itália e a Espanha. Casou-se com um italiano e foi viver por lá. Mas a vida também não estava fácil. Depois que a Itália entrou para a Comunidade Européia, as coisas apertaram, sobretudo para os estrangeiros.
As vezes a conversa até flui... Mas quando você não quer conversa e prefere ler, chega gente provocando. E foi novamente com Eugênio, que queria viajar quietinho (ao subir no coletivo naquela manhã, procurou um lugar do lado da sombra, para passar um roteiro de viagem) que as pessoas foram interagir. Dessa vez foi um velhinho, todo vestido de certinho. Calça social, camisa de botão, de manga comprida, atacada até o punho. Eugênio olhou e pensou com ele mesmo: seria um bom lugar para sentar. O velhinho, asseado, não puxaria conversa e ele poderia ficar em paz.
Ledo engano. A cadeira do ônibus, apertada, não deixava o meu amigo sentar direito. Uma perna para fora e outra tocando a do velho. Eis que uma hora o senhor, descompensadamente, o empurrou. Eugênio, assustado, perguntou o que estava acontecendo. - Feche a perna, rapaz. Não está vendo que está me apertando? Disse o velho, rispidamente com a educação e tolerância que é comum a muitos passageiros - mas na volta para casa, fulos da vida, com o ônibus cheio!!
Foi só o tempo de tomar fôlego.
- Meu senhor, estou quase caindo da cadeira.
- Agora fica empurrando, de perna aberta. Resmungou e ficou praguejando.
- Ah, o ônibus tá vazio. Se o senhor estiver apertado, pode procurar outra cadeira. Respondeu.
- É isso que você quer! Que eu saia. Saia você. Agora fica aí, todo aberto, parecendo que vai parir, parecendo que vai parir, parecendo que vai parir... repetiu.
Naquele dia, Eugênio tinha esquecido o gel.
Certas vezes, por ter uma cara benevolente, precisa trocar uma ou outra palavra com o companheiro de cadeira e de trajeto. - Existem preços de passagens diferentes neste ônibus? Perguntou a mulher bigoduda que sentou ao lado dele. - Neste ônibus, não. Disse. - Mas ali o cartaz mostra vários preços, porque existem várias linhas de ônibus. Dependendo do percurso, ou se têm integração com o metrô, eles têm preços diferentes, explicou.
A mulher bigoduda estava prestando atenção, como se não fosse dali. De fato, fazia muito tempo que ela não andava num ônibus no Recife. Segundo ela, vinte anos, vividos entre a Itália e a Espanha. Casou-se com um italiano e foi viver por lá. Mas a vida também não estava fácil. Depois que a Itália entrou para a Comunidade Européia, as coisas apertaram, sobretudo para os estrangeiros.
As vezes a conversa até flui... Mas quando você não quer conversa e prefere ler, chega gente provocando. E foi novamente com Eugênio, que queria viajar quietinho (ao subir no coletivo naquela manhã, procurou um lugar do lado da sombra, para passar um roteiro de viagem) que as pessoas foram interagir. Dessa vez foi um velhinho, todo vestido de certinho. Calça social, camisa de botão, de manga comprida, atacada até o punho. Eugênio olhou e pensou com ele mesmo: seria um bom lugar para sentar. O velhinho, asseado, não puxaria conversa e ele poderia ficar em paz.
Ledo engano. A cadeira do ônibus, apertada, não deixava o meu amigo sentar direito. Uma perna para fora e outra tocando a do velho. Eis que uma hora o senhor, descompensadamente, o empurrou. Eugênio, assustado, perguntou o que estava acontecendo. - Feche a perna, rapaz. Não está vendo que está me apertando? Disse o velho, rispidamente com a educação e tolerância que é comum a muitos passageiros - mas na volta para casa, fulos da vida, com o ônibus cheio!!
Foi só o tempo de tomar fôlego.
- Meu senhor, estou quase caindo da cadeira.
- Agora fica empurrando, de perna aberta. Resmungou e ficou praguejando.
- Ah, o ônibus tá vazio. Se o senhor estiver apertado, pode procurar outra cadeira. Respondeu.
- É isso que você quer! Que eu saia. Saia você. Agora fica aí, todo aberto, parecendo que vai parir, parecendo que vai parir, parecendo que vai parir... repetiu.
Naquele dia, Eugênio tinha esquecido o gel.
Comentários
Xucrutão, brigada pelas lindas palavras no meu fotocoisa.. Fiquei emocionadinha!!